#Uruguai- Dia 05 - Punta del Diablo UY
fevereiro 06, 2024Eu não dormi na última noite, talvez uma ou duas horas somadas. Foi o pior sono da minha vida, mas com certeza não foi a pior noite. Eu estava tão empolgado com a viagem e em chegar logo ao Uruguai, que não me importava uma noite mal dormida. Acordamos às 06h com um frio danado. Eu não quis nem tirar minhas roupas, mas sabia que logo eu teria de tirar algumas conforme eu fosse me aquecendo. Depois de tudo pronto, começamos a pedalar logo que o céu clareou.
O objetivo era atravessar a fronteira antes das 14h, mas o vento não nos ajudou. Era incrível como estávamos sempre pedalando com o dobro da força necessária, o que significava metade do rendimento. O vento era o nosso pior inimigo! Paramos para almoçar na última cidade antes do Chuí, e se tudo desse certo ainda estaríamos com um bom tempo para pedalar. Almoçamos em Santa Vitória do Palmar, a última cidade a ser vencida. Cada quilômetro pedalado era uma pequena vitória contra o vento. Pouco antes de chegarmos à Polícia Rodoviária Federal, antes da Aduana, parei para tirar uma foto com a bicicleta ao lado da placa de km 666 da BR-471: aquele vento só podia ser obra do capiroto!
A travessia pela fronteira foi bem tranquila para mim e para o Ashley. Como ele era australiano e nem ao menos falava português ou espanhol, eles nem tentaram fazer perguntas. Atravessar a fronteira de um país e chegar a outro, de bicicleta, foi uma sensação maravilhosa. E estava literalmente pedalando em estradas internacionais agora, e elas eram realmente muito boas!
O acostamento das rodovias do Uruguai eram perfeitos, e a paisagem era muito linda. Apesar de parecidas com as do sul do Brasil, os campos e vegetação pareciam mais bonitos e organizados. Os próprios animais soltos nos campos pareciam mais uniformes, como se tivessem sido selecionados. Era tudo muito lindo, talvez mais lindo, ou talvez apenas impressão pelo entusiasmo. Não haviam nuvens e o sol começava a se pôr, a famosa golden hour.
Porém, havia um problema: iria escurecer em seguida e ainda faltavam 45 km até Punta del Diablo, onde iríamos passar a noite. Apesar de descentes, as estradas não tinham iluminação alguma naquela parte da rodovia. O primeiro posto de gasolina apareceu depois de 15 km, paramos para descansar e verificar a rota que iríamos fazer. Nessa parada eu descobri que teria problemas pelos próximos dias, pois eu não havia trazido comigo nada além do cartão de crédito digital em meu celular como forma de pagamento. Também tive que comprar um chip com um número uruguaio para o meu celular, pois o meu estava sem sinal naquela região e também sem internet. Como só aceitavam dinheiro em papel pelo chip, tive que pagar o equivalente em gasolina com o cartão de crédito (que irônico não é mesmo). Não fazia sentido eles não aceitarem crédito pelo chip e sim pela gasolina, mas funcionou.
Quando saímos do posto estava completamente escuro, as estradas não tinham iluminação alguma, um completo breu, e a minha bicicleta parecia uma árvore de natal com tantas lanternas. O Ashley ia sempre na frente, e como ele não tinha lanterna, emprestei uma s minhas. Eu gosto de pedalar à noite, mesmo sendo mais perigoso, principalmente em rodovias. Mas as estradas eram tão boas que acabavam facilitando o trabalho. A noite estava muito fria e o céu completamente estrelado. Eu estava muito feliz.
Enquanto pedalávamos, o Ashley ia me contando de todas as suas aventuras de bicicleta pela África, como nas vezes que ele teve que esperar grupos de elefantes atravessar as estradas para ele pudesse passar. Ou então sobre as girafas, que eram tão calmas, que ele via pelo caminho. Ele tinha tantas histórias! Quanto mais perto chegávamos de Punta del Diablo, mais frio ficava. O vento gelado castigava demais, meu nariz parecia queimado apenas com o frio. Quando finalmente chegamos, restava achar um lugar para dormir. Depois de dispensar um hotel que parecia bem legal e caro, parei na delegacia para pedir alguma dica. A policial era uma mulher bem atenciosa, que me pediu para aguardar alguns minutos enquanto ela ligava para alguns conhecidos. Ela nos indicou que chegássemos até uma tal de Ana, a algumas quadras dali.
Depois de uma confusão de como fazer o pagamento, fomos até um caixa eletrônico que ficava na praia, para que o Ashley sacasse dinheiro para a hospedagem, enquanto eu pagaria pelo jantar com o meu cartão. O lugar era sensacional, eu iria novamente dormir em uma cama de verdade, e tinha até uma lareira! Comprei o necessário para cozinharmos hamburguers e um pouco de lenha. O Ashley pode finalmente usar seu produto inflamável para fogueiras que ele carregava fazia milhares de quilômetros, mas nunca havia usado pois geralmente acampava em algum mato sem fazer fogo para não chamar a atenção. Tínhamos uma cozinha, camas, água quente para o banho e uma lareira. O dia não poderia ter encerrado de um jeito melhor!
Espinilho Alvorada - Punta del Diablo UY.
16 de junho de 2023.
130 km.
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