#Uruguai - Dia 07 - La Paloma UY

fevereiro 10, 2024

     A noite em Cabo Polonio não poderia ter sido melhor. De manhã acordei perto das 8h, mas o caminhão que levava as pessoas de volta para o parque já havia partido, o próximo seria apenas às 11h. Aproveitei para fazer um café que eu tinha na mochila.



    À luz do dia Cabo Polonio era completamente diferente, eu queria passar ao menos uns três dias naquele lugar. Eu e o Ashley aproveitamos para caminhar pela praia, passando pelas ruas de areia que passavam entre o vilarejo. O lugar parecia ter parado no tempo, o que era sensacional. A decoração era toda feita de artesanato e pinturas coloridas, tudo virava algo decorativo e aconchegante. As paredes de todas as casas, bares e pousadas continham frases e poemas escritos em letras coloridas. A beira da praia era feita não de areia, mas de conchas trituradas pelo tempo. Era o contrário de uma praia convencional, mas era tão atraente quanto a mais bela praia. Estava frio e ventando, e minha vontade era sentar ali e passar a tarde tomando um chimarrão em frente a uma fogueira, olhando as ondas do mar.

    Do nada, o Ashley gritou "a whale!", apontando para o mar. Só deu tempo para eu ver o resto da cauda de uma baleia jubarte mergulhando no água. Nós estávamos procurando pelos lobos marinhos que eram famosos naquele lugar, mas voltamos sem encontrar nenhum. O chuveiro daquele lugar era maravilhoso, aquecimento a gás passou a ser a melhor invenção da humanidade naquele frio!

    Cerca de 15 minutos antes de o caminhão sair, o Gabriel e a Luana estavam voltando de um passeio até o farol, onde eles contaram que avistaram diversos lobos marinhos. Mesmo sem muito tempo, eu e o Ashley nos olhamos e saímos corrente até o local, pois queríamos muito ver os lobos. Chegando no local, avistamos centenas deles, muito mais do que seria possível contar. Eles estavam deitados nas pedras ao redor do farol, todos tomando banho de sol. Foi uma cena muito linda, uma pena não termos achado aquele local mais cedo. Voltamos correndo para o hostel e pegamos nossas coisas, por pouco não perdemos o caminhão (o Gabriel e a Luana seguraram para nós).

    O caminho de volta até a entrada do parque foi diferente da noite anterior, pois dessa vez à luz do dia era possível enxergar cada detalhe. Cabo Polonio com certeza é um lugar que eu quero voltar um dia. Chegando no local onde havíamos deixado as bikes, verificamos que para nosso alívio elas ainda estavam lá. Nos despedimos dos nossos novos amigos brasileiros e ficamos de tentar nos encontrar em algum lugar de nossa rota. É claro que isso é muito improvável, pois apesar de estarmos todos indo até Montevidéu, eles estavam de carro e nós, bem, de bicicleta.

    Começamos a pedalar pouco antes do meio dia, e a ideia era chegarmos até La Paloma, cerca de 45 km adiante. O caminho foi bem tranquilo, a única diferença era que haviam menos árvores e mais campos como paisagem... e um vazio total! Tentamos procurar algum lugar para almoçar, porém os lugares indicados no mapa já não existiam mais. Encontramos uma cidadezinha pouco antes de La Paloma, chamada La Pedrera, onde paramos para comer (e beber, se falarmos do Ashley). Não era nem 15h ainda, e faltavam apenas 9 km, finalmente chegaríamos cedo a um destino. A estrada que estávamos andando era a Ruta 10, a rodovia que costeava o mar, de modo que cada rua que conectava até a Ruta 10 nos levaria até alguma praia. Minha vontade era entrar em cada rua, descobrir cada caminho até o oceano. Desde pequeno sempre tive essa curiosidade: descobrir até onde cada caminho poderia me levar, mas é claro que isso não é possível, sempre podemos escolher apenas um por vez.

    O caminho de entrada até La Paloma foi lindo, tivemos que passar por um túnel de árvores gigantescas, logo após o túnel descemos alguns quilômetros à esquerda, indo em direção ao mar. Aquela era a maior cidade que passamos até então, o que era até legal. Quando paramos as bicicletas na frente do pórtico da cidade para tirarmos mais uma foto (a cada cidade com pórtico eu parava pra tirar uma foto), um carro buzinou para nós em forma de cumprimento.

    Conseguimos achar um lugar muito legal para ficarmos. Na verdade, eu me apaixonei pelo lugar: era uma pequena casa de madeira em formato de cabana, com sala de estar, uma mesa e cozinha com uma lareira ao lado da porta de um quarto com cama de casal. Havia uma banheiro com chuveiro a gás e uma escada que levava a um segundo quarto no andar de cima. De novo, eu me apaixonei por esse lugar, e facilmente moraria nele.

    Na esquina da casa havia um supermercado, mas antes fomos até o centro da cidade para passear. De tanto pedalar, parecia que eu não sabia mais caminhar, era uma sensação muito estranha, mas foi bom dar uma exercitada no corpo para variar. Eu entrei em algumas lojinhas de artesanato no centro para comprar algumas lembranças, e em uma delas uma senhorinha me viu entrar e me olhou como se me conhecesse. Ela me perguntou de qual cidade do Brasil eu estava vindo de bicicleta. Fiquei sem entender, pois eu não estava nem de bike e nem de capacete, pois deixamos tudo na casa. Ela me reconheceu pelo meu casaco e disse que passou por nós buzinando a hora que paramos no pórtico. Era muita coincidência!

    No caminho de volta, eu e o Ashley conversamos sobre cinema e nossos filmes favoritos, principalmente sobre o Johnny Depp e Amber Heard e suas recentes polêmicas. Passamos no supermercado para comprarmos algo para cozinhar, e mais uma vez ficamos abismados como tudo era tão caro no Uruguai. A janta seria macarrão com legumes e carne moída. Quando entramos de volta na casa, um gato amarelo e branco ficou miando no lado de fora da porta, e como estava muito frio na rua e a lareira estava acesa, fiquei com pena do gato e o adotei por uma noite. Era o gato mais simpático que já vi na vida, ficou alternando entre mim e o Ashley pedindo carinho. De repente, descobri que era na verdade uma gata! O Ashley disse então que ela precisava de um nome, e rapidamente dissemos ao mesmo tempo: "Amber!". Amber foi nossa gata por um dia, inclusive comeu um pouco da sardinha que compramos para o café da manhã.

    No banho lavei algumas roupas e aproveitei o calor da lareira para secá-las. Estava muito frio, e passei o restante da noite na frente da lareira com a Amber vendo TV, enquanto o Ashley ficou na varanda assistindo vídeos no YouTube e tomando cerveja no frio. Ele aproveitou que tínhamos internet na casa para me mostrar o tal sanduíche que o fez querer ir até Montevidéu. Ele não parava de falar nesse tal sanduíche, e até mesmo eu coloquei isso como meta para quando chegássemos lá. Se não fosse pelo que estava passando na TV (pegava os canais brasileiros) eu nem saberia que era domingo, e isso era uma sensação maravilhosa. Eu aproveitava cada segundo do dia, não havia tempo ocioso. Esse foi o sétimo dia da viagem, e eu não imaginava que pudesse ser mais perfeito.

Cabo Polonio - La Paloma.

18 de junho de 2023.

46 km.

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